Seção 1: As Classes Sociais e as
Quatro Varnas |
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As Classes Sociais
e as Quatro Varnas
Conforme o ser humano atua e marca sua presença na
sociedade, podemos identificar quatro categorias básicas da mente humana. Essas
categorias são definidas como classes e são chamadas de varnas, em sânscrito,
que significa “cores”, literalmente. As classes são simbolicamente definidas
como “cores psíquicas”, de acordo com as tendências mentais.
O conceito de varnas é importante para uma análise da dinâmica social das classes. Esse modelo se destina mais apropriadamente à análise social do que ao estudo da psicologia e do comportamento do indivíduo, que se baseia em leis mais complexas. Por isso, é importante não aplicá-lo de forma simplista e rígida aos indivíduos.
O
conceito de varnas nos conduz a uma nova teoria da dinâmica social e a uma
análise histórica singular. Essa teoria assegura que, em cada era, uma
determinada varna influencia a sociedade e a psicologia coletiva, garantindo
assim o domínio sobre as demais classes. Além disso, é demonstrado que as
transformações sociais ocorrem em ciclos. Esses dois aspectos formam a teoria
dos ciclos sociais, fundamentada na mudança cíclica da sociedade, uma vez que
os valores prevalecentes e o domínio na sociedade mudam de acordo com a varna
predominante a cada época. As quatro classes são: shudra (trabalhadores),
ksattriya (guerreiros e militares, pronuncia-se cátria), vipra (intelectuais e
clero), e vaeshya (empresários comerciantes, industriais e financistas).
Primeiro
examinaremos os quatro grupos e subseqüentemente faremos uma análise histórica
resumida, utilizando essa perspectiva.
Shudra (Trabalhador)
A
primeira classe apresenta as características de uma mente humana menos
desenvolvida do que as outras classes, uma vez que está condicionada ao mundo
material e social e aos instintos básicos. A satisfação dos instintos básicos e
a preocupação com a subsistência são as prioridades dessa classe. As pessoas
essa mentalidade são chamadas de shudras. A mente do shudra é representada pela
cor negra, que simboliza a preocupação com o mundo objetivo. (COMPLETAR A
EXPLICAÇÃO DAS CORES PARA AS OUTRAS CLASSES OU RETIRAR ESTA). Os shudras não
têm ideais muito sofisticados nem desenvolvem cultura refinada. É claro que a
mentalidade shudra da era moderna é mais desenvolvida do que a mentalidade
shudra das eras antigas. Essas categorias são relativas, pois os shudras, por
terem poucas aspirações ou pouco dinamismo mental, vivem de acordo com as
tendências predominantes na psicologia coletiva. A psicologia shudra é
essencialmente a psicologia das massas, e requer o direcionamento e a
inspiração daqueles com mentes mais desenvolvidas, daqueles que determinam a
direção e o rumo da psicologia coletiva.
No
nível individual, todas as pessoas possuem uma combinação potencial de todas as
quatro varnas — embora uma psicologia seja mais predominante que a outra. Isso
que dizer que, se a pessoa se esforçar pelo seu desenvolvimento psíquico, ela
poderá desenvolver qualquer uma das tendências, ou até mesmo as quatro
tendências simultaneamente.
Ksattriya (Guerreiro)
A
segunda varna é constituída pelas pessoas com mentalidade guerreira, espírito
de luta, bravura e que aceitam o desafio de lutar. Elas são denominadas
ksattriyas. A mente ksattriya busca, de forma rudimentar, estabelecer o domínio
ou o controle do mundo material através da força física. Num sentido positivo,
uma sociedade dominada por ksattriyas tende a dar grande ênfase aos valores
sociais, tais como a honra, a disciplina, o serviço; e num sentido
potencialmente negativo tende a enfatizar a autoridade, a crueldade e a
competição. As antigas civilizações romana, grega (dos helênicos) e
árabe-muçulmana e várias ditaduras militares e comunistas são exemplos de
sociedades dominadas pelos ksattriyas.
Vipra (Intelectual)
Pessoas
com intelecto desenvolvido e que procuram ter influência nos rumos da
sociedade, usando suas faculdades mentais, constituem essa terceira classe,
chamada de vipra.
A
característica mais marcante da classe vipra é a busca de realizações nos
campos da ciência, da religião e da cultura. As eras vipras são caracterizadas
pelas regras sociais e políticas dos intelectuais, ministros ou clero (seja na
monarquia, democracia, teocracia, etc). Nesta, os propósitos religiosos,
culturais ou intelectuais dominam a psicologia coletiva.
As
sociedades budista e hindu da Índia antiga, a Europa da Idade Média, dominada
pela Igreja Católica, e algumas nações islâmicas fundamentalistas da atualidade
são, essencialmente, exemplos de sociedades vipras.
Vaeshya (Negociantes)
A
quarta varna ou classe social é a dos vaeshyas — a classe de comerciantes,
empresários ou financistas. Esta classe tem grande capacidade de administrar e
acumular recursos. A Idade Moderna, que foi marcada pela Revolução Industrial,
continua a ser dominada pela psicologia dessa classe. Assim como os guerreiros
dominaram a Idade Antiga e os intelectuais dominaram a Idade Média, os
mercantilistas dominam a Idade Moderna.
O
começo de qualquer era é marcado por grande dinamismo em todos os níveis:
político, cultural, econômico etc. Isso ocorre porque os novos administradores
libertam o povo da opressão infligida pela antiga ordem. Então, dá-se início a
uma era promissora, enquanto a nova classe solidifica seu controle sobre a
sociedade. Com o passar do tempo, entretanto, o declínio social ocorre, na
medida em que a classe dominante se empenha para aumentar seu poder e sua
riqueza.
Dessa
forma, a classe mercantilista dos vaeshyas infundiu grande dinamismo à antiga
sociedade, que sofria com a dominação de uma classe de vipras corrompidos
(intelectuais, religiosos etc.) e com o sistema feudal imposto pelo Império
Romano. A era promissora da história moderna continua sendo, provavelmente, o
período do domínio norte-americano. Agora, entretanto, o mercantilismo começa a
decair, visto que a classe dominante procura expandir sua riqueza e o seu poder
na área governamental, em detrimento do poder de compra de um grande número de
pessoas, sendo que a maioria não consegue obter nem mesmo suas necessidades
básicas.
Nesse
declínio, trabalhadores, guerreiros e intelectuais são cada vez mais subjugados
à vontade dos capitalistas, que controlam os salários e o padrão de vida das
outras classes com “mão de ferro”. A política é também manipulada pelos
capitalistas, pois eles têm o verdadeiro poder financeiro. Atualmente, todas as
sociedades capitalistas do mundo estão nessa condição. A maior evidência disso
está na absoluta dependência dos líderes políticos em relação aos capitalistas,
que financiam suas campanhas eleitorais. Apesar de a democracia constitucional
ter sido um aspecto positivo de desenvolvimento na era mercantilista, na
prática, hoje em dia, ela se tornou uma ferramenta de controle e dominação dos
gigantes financeiros sobre as economias nacionais dos países em geral, em especial
dos países do Terceiro Mundo.
A Humanidade e
os Ciclos Sociais
A teoria dos ciclos sociais professa que as eras
históricas evoluem na seguinte seqüência: shúdra (dos trabalhadores braçais), ksattriya
(guerreira), vipran (intelectual) e vaeshyan (mercantilista). Em seguida, um
novo ciclo se inicia. Pode-se alegar que
esse panorama cíclico da sociedade humana não reconhece o potencial do
progresso humano e que estaríamos nos movendo em círculo, como se nossos passos
voltassem à origem. Contudo, o verdadeiro movimento do ciclos sociais deve ser
comparado a um movimento em espiral, que é circular, mas se movimenta de forma
progressiva em direção a uma maior expressão da consciência.
No
início da história da humanidade, os shudras viviam em confronto com as forças
da natureza. Através dos choques com o ambiente hostil e de conflitos entre
clãs, que lutavam pela sobrevivência, a mente humana aumentou, paulatinamente,
sua complexidade, capacidade e vitalidade. Com isso, a confiança, a bravura e a
capacidade de comandar e controlar o ambiente físico e social foram
desenvolvidas em alguns seres humanos.
No
começo, o poder era exercido normalmente pela força física, formando-se, assim,
a era das pessoas com mentalidade guerreira. Esse foi o verdadeiro início da
sociedade humana, numa forma rudimentar. Unidade, disciplina e senso de
responsabilidade desenvolveram-se vagarosamente, na medida em que o sistema de
clãs se formou na Idade da Pedra, resultando no começo da sociedade e da
estrutura social.
Desde
a era shudra até o início da era guerreira, vigorou o sistema matriarcado, com
a liderança sendo exercida pelas mulheres, as quais representavam seus
respectivos clãs. Como o casamento não era ainda uma instituição estabelecida
socialmente, a mulher recebia todo o prestígio da sociedade e tinha grande
poder de decisão. Essa participação histórica das mulheres foi marcante, pois
elas comandaram a sociedade por milhares de anos, desde a Idade da Pedra até o
surgimento da era patriarcal (há cerca de 3.500 anos).
Devido
às lutas das sociedades guerreiras contra as forças da natureza e entre os
diferentes clãs, a capacidade intelectual dos seres humanos se desenvolveu. A
inteligência dos vipras emergentes resultou nas primeiras conquistas
científicas, tais como o uso do fogo, a invenção do arco e da flecha, da agulha
e da linha, as técnicas de arado e cerâmica, a domesticação de animais, a
agricultura etc. Como resultado desse longo processo, os vipras desfrutaram de
um prestígio cada vez maior na sociedade e se tornaram o trunfo mais valioso
dos líderes ksattriyas. Os artefatos bélicos se tornaram complexos, e a tática
e a estratégia assumiram uma importância maior do que a força e a habilidade.
Sem a ajuda dos intelectuais, a conquista de batalhas era impossível.
A
florescente era ksattriya foi uma era de expansão e conquistas (da
pré-histórica até o fim do antigo Império Romano; a dinastia chinesa Chin e a
expansão indu-ariana por toda a região do Cáucaso). Na era ksattriya, dava-se
muita importância à bravura, à honra, à disciplina e à responsabilidade. Isto
tornou a sociedade ksattryia bem organizada e unida.
Na segunda metade da primeira era ksattriya, a sociedade passou do sistema matriarcado para o patriarcalismo. Esse novo sistema foi institucionalizado pelo estabelecimento do casamento e da propriedade privada e pela criação das cidades. A liderança saiu dos conselhos tribais para os soberanos guerreiros. Essa transição abriu caminho para o surgimento dos grandes impérios da história antiga: império dos arianos, da Suméria, da Assíria, da Babilônia, da Pérsia, do Egito, da Macedônia (Europa antiga) e de Roma, para mencionar apenas alguns.
Com
o passar do tempo, os conselheiros intelectuais (ministros) aumentaram sua
importância, adquirindo mais poder do que os monarcas. Da mesma forma, as
religiões passaram a cumprir o papel então exercido pelas magias tribais, a
Igreja (vipra) cresceu, obtendo mais poder do que a realeza, por toda a Europa,
e, no Tibete, monges e lamas conquistaram autoridade tanto política quanto
religiosa. Com isso iniciou-se a era vipra, a autoridade dos líderes guerreiros
tornou-se menos importante e a administração social passou a se basear mais nas
escrituras e nas leis. Através de diferentes proibições sociais e religiosas
fundamentadas nas escrituras, os intelectuais, que ocupavam cargos de ministro,
sacerdote, advogado, senador ou conselheiro, governaram a sociedade e
estruturaram sua forma de desenvolvimento.
Quando
o ciclo social chegou ao estágio vipra, a vida cultural da sociedade floresceu,
e os seres humanos alcançaram um nível mais elevado de consciência e
desenvolvimento mental. A solidificação das instituições culturais, religiosas
e governamentais ocorreu dentro da era vipra; e sob a égide dessas
instituições, a ciência, as artes e outros ramos do conhecimento floresceram.
As antigas eras budistas da Índia, da China e do sudeste da Ásia, e o
crescimento da Igreja Católica, durante a Idade Média, com suas grandes escolas
em mosteiros, ilustram isso.
Com
o decorrer do tempo, a classe dominante torna-se egoísta e mais preocupada com
a realização dos privilégios materiais e sociais.
Uma
das mais poderosas ferramentas usada historicamente pela classe vipra tem sido
a difusão de superstições e complexos de inferioridade na mente das outras
classes, para perpetuar, assim, seu domínio. A submissão da mulher às regras
opressoras é mais uma criação dos vipras do que dos ksattryias. O domínio
masculino incutiu nas mulheres complexos de inferioridade, tendo sido a elas
negado o direito à educação (na primeira era vipra), tanto na sociedade
oriental quanto na ocidental.
Enquanto
os intelectuais buscavam conforto e privilégios, os mercantilistas gradualmente
acumulavam riquezas. Dessa forma, eles se tornaram capazes de comprar terras e
empregar os próprios intelectuais para servi-los. Os mercantilistas forneceram
um novo dinamismo à sociedade, já que o poder deles aumentou com a criação do
novo sistema financeiro, político e social.
A habilidade e o pragmatismo dos vaeshyas gradualmente diminuíram a influência das superstições e das instituições decadentes constituídas na última era vipra. Os movimentos protodemocráticos, como a constituição da Câmara dos Comuns na Inglaterra e a Revolução Francesa, levaram a uma lenta diminuição da disparidade social e marcaram a era vaeshya na Europa e em suas colônias. Grandes avanços na arte e na ciência foram também estimulados pela era vaeshya, sob o patrocínio da classe comerciante. Todavia, o imperialismo europeu (e mais tarde o americano e o japonês) surgiram na era vaeshya.
Os
mercantilistas consideravam tudo ao seu redor, inclusive os seres humanos, como
mera ferramenta para aumentar seus lucros. Essa visão começou a se expandir pelo
mundo assim que a classe mercantilista, em comum acordo com o Vaticano, passou
a utilizar as qualidades marciais dos ksattriyas para colonizar o mundo. O
objetivo era simplesmente extrair recursos e escravizar os seres humanos para
trabalharem na produção. Dessa forma, todos os países industrializados do mundo
foram moldados pela classe mercantilista.
Quando
começou o declínio da era capitalista, a economia foi forçada a aumentar a
eficiência das corporações, visando à maximização do lucro. Com isso, o nível
de emprego diminuiu e o poder de compra do trabalhador se deteriorou. Aqueles
que têm mentalidade guerreira e intelectual, estão subjugados, na condição de
shudras. As oscilações nas bolsas de valores e nos mercados financeiros e a
dificuldade crescente de adquirir as necessidades básicas estão criando um
ambiente propício para novas mudanças. As pessoas desfavorecidas pelo sistema
vaeshya se unirão aos intelectuais e aos guerreiros/militares excluídos pelo
atual sistema e irão se erguer e começar a tomar conta das relações econômicas
e sociais. Isso significa o fim da era vaeshya e o início de uma nova era
shudra. Tecnicamente falando, uma sociedade shudra emerge logo após a queda da
ordem vaeshya. Essa era shudra (que é caracterizada como um período de
anarquia) dura apenas o tempo necessário para que os ksattriyas tomem a
liderança da revolução e solidifiquem o seu poder. Geralmente esse período dura
alguns dias ou até mesmo algumas horas.
A
revolução comunista da Rússia caracterizou esse estágio do ciclo social: o
domínio mercantilista terminou devido à revolução dos trabalhadores, resultando
em uma nova sociedade dominada pelos militares.
Filosofia dos Ciclos Sociais
O movimento dos ciclos
sociais está em processo de rotação contínua. Considerando a psicologia das
diferentes classes, podemos identificar, na história das nações ou
civilizações, o domínio social e administrativo de uma das classes sociais, em
eras distintas. Esses ciclos determinam os valores sociais e a psicologia
social predominantes. Como regra geral, em cada época, na história de uma
sociedade ou nação, apenas uma classe é dominante. Portanto, podemos
classificar as sociedades como sendo shudra (trabalhadora), ksattriya
(guerreira), vipra (intelectual) e vaeshya (mercantilista, industrial).
As nações e as civilizações, em
separado, seguem seu próprio ciclo (ver Apêndice E), enquanto a sociedade
global, em todo o planeta, tem um ciclo único, que começou na Idade da Pedra,
com a era shudra, e encontra-se agora na era vaeshya.
A filosofia dos ciclos sociais é regida
por diferentes princípios, inclusive o de que seus movimentos são sistálticos
ou pulsativos. Numa verdadeira análise da história, podemos certamente detectar
esses movimentos, contudo, devemos ter em mente que esse processo é dificultado
pela influência mútua das civilizações, nos períodos de transição de uma era
para a outra, quando os ciclos se misturam.
Em cada espiral do ciclo, existe também
um movimento dialético que acarreta o nascimento, o desenvolvimento e o fim de
uma era, levando ao nascimento, o desenvolvimento e o fim da próxima era e
assim por diante. A duração de uma era, ou de qualquer estrutura social, pode
ser ilustrada da seguinte forma:
SISTEMA 1
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SISTEMA 2
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Fase 3 Pausa Manifestativa
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Fase 7 Movimento Manifestativo do
Sistema 2 |
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Fase 4 Declíneo |
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Fase 2 Movimento Manifestativo |
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Fase 5 Pausa Estática Colapso do Sistema 1 |
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Fase 1 Pausa Estática |
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Fase 6 Pausa Manifestativa Nova antítese |
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Movimento Sistáltico: Na realidade, os ciclos sociais não têm
movimentos contínuos para adiante, mas sim movimentos sistáticos (de contração,
pausa e expansão). Existem períodos de intenso movimento social seguidos por
outros de pausa relativa. Quando a sociedade está num período de estagnação,
com pouca vitalidade ou dinamismo, tal estágio é chamado de pausa sistáltica
(fase 1). Nesse estágio, novas idéias surgem devido ao sofrimento crescente do
povo. Tais idéias formam uma antítese à estrutura estagnada.
Quando tal antítese ganha suficiente
força, a estrutura social existente muda fundamentalmente, devido ao dinamismo
das novas idéias. Esse estágio inicial de mudança e dinamismo é denominado como
movimento “manifestativo” (fase 2). Quando se chega a uma nova síntese, por
influência do movimento manifestativo, surge o estado de pausa “manifestativa”
(fase 3).
Essa pausa é o apogeu do movimento social, o período de maior vitalidade. A
força dessa síntese consiste na vitalidade das idéias na qual é fundamentada.
Mas posteriormente, essa vitalidade se deteriora devido à opressão e à
exploração crescente da classe dominante sobre as outras classes, causando,
assim, estagnação. Então o movimento alcança novamente o estado da pausa
sistáltica (fase 5), aguardando o surgimento de idéias novas.
Portanto, todas as eras dos ciclos sociais
começam com a fase dinâmica formativa, na qual uma nova vitalidade é infundida
dentro da estrutura social. A sociedade alcança um pico sustentável
subseqüentemente seguido pelo declínio e a “estaticidade”, geralmente
acompanhados de exploração excessiva. Então, surge uma antítese no estágio da
pausa sistáltica (fase 6), que surge da varna que dominará a próxima fase do
ciclo social.
Tipos
de Movimentos Sociais: Um ciclo social tem vários
tipos de movimento.
1. Movimento normal é quando ocorrem
mudanças de forma natural, ou seja, todas as mudanças e conflitos que não
alteram substancialmente a estrutura social básica e política. Os períodos de
mudanças mais substanciais são os referidos como evolução e contra-evolução,
revolução e contra-revolução.
2. Evolução refere-se aos períodos de transformação social progressiva e dinâmica, seguindo o fluxo do ciclo social. O colapso do comunismo na Europa Oriental e na antiga União Soviética ilustra a evolução social.
3. Contra-evolução é o movimento regressivo do ciclo social (inversão do
ciclo social). Exemplos de contra-evolução foram as repressões militares contra
os movimentos estudantis e intelectuais, no Brasil, a partir de 1968, e na
Argentina, a partir de 1976, que frustrou temporariamente a transição para a
era vipra.
4. Revolução são períodos de mudanças
dramáticas, caracterizados pela aplicação de tremenda força (quando o ciclo
social move-se para adiante). As revoluções dos trabalhadores comunistas
(shudras), na Rússia, em 1917, e em Cuba, em 1959, são exemplos de revoluções
progressistas, fazendo com que os governantes exploradores (vaeshyas) se
expusessem à revolução shudra.
5. Contra-revolução é quando as mudanças revertem o ciclo social do governo da varna anterior. Como exemplo de contra-revolução, podemos citar os esforços feitos pela C.I.A. (serviço secreto norte-americano) para impedir os avanços dos movimentos de libertação na América Latina.
A contra-evolução e a contra-revolução duram pouco tempo; o movimento
natural do ciclo social não pode ser interrompido indefinidamente. As
contra-revoluções são sempre regressivas, pois elas revertem a sociedade ao
estágio do ciclo social em que se estabeleceu a estagnação.
A Influência Mútua das Civilizações: A sociedade humana é formada por muitos grupos,
nações e estados — de muitas civilizações antigas e atuais. Essas civilizações
e sub-civilizações podem estar às vezes em diferentes estágios de
desenvolvimento, e seus contatos entre si afetam o movimento dos seus ciclos
sociais.
Por exemplo, muitas sociedades que ainda
estavam na era vipra rapidamente mudaram para a era vaeshya sob a influência do
colonialismo (como a Índia). Esse tipo de influência mútua torna a análise de
um ciclo social mais complexa. Especialmente hoje em dia, as influências mútuas
têm se tornado extremamente complicadas. A maior parte das nações tem sido
gravemente afetada pela era vaeshya do Ocidente, que começou com o advento do
colonialismo e culminou no atual processo de globalização.
A globalização econômica da sociedade
vaeshya incitará lutas libertadoras em diversos países, que resultarão na
derrocada da estrutura neoliberal. A cultura global humana, que é um aspecto
positivo da globalização, provavelmente continuará a crescer mesmo com o
término desse sistema explorador.
Revolução sem Violência: Na teoria de PROUT, a morte estrutural de um
sistema social não significa a morte de seres humanos. É teoricamente possível
que ocorra uma revolução sem derramamento de sangue e que um sistema
completamente novo surja após a queda do antigo sistema.
O Papel dos Indivíduos nas
Transformações Sociais: A
sociedade é composta por um grande números de indivíduos. É possível que o
ritmo dessas pessoas siga o ritmo individual na esfera psíquica e na esfera
espiritual, mas isso não é possível na esfera física. A síntese dos movimentos
de vários indivíduos constitui o movimento social coletivo. O fluxo individual
é influenciado pelo fluxo coletivo, pois cada indivíduo se esforça para se
adaptar à sociedade.
Apesar de a teoria dos ciclos sociais explicar
claramente os movimentos sociais, ela precisa ser aprimorada com pesquisas. Uma
análise dos fatos históricos é a forma mais adequada para alcançar esse
objetivo.
Sob
uma visão holística, a arte, a política, a economia, a religião, a filosofia, a
ciência, a tecnologia, a música, o vestuário e os costumes estão todos
integrados e, por isso, devem ser entendidos como expressões da sociopsicologia
predominante. Conflitos podem surgir porque nem sempre existe harmonia e consonância
absoluta entre essas diferentes expressões humanas. Uma nova psicologia social
surge primeiro nas esferas mais sutis — como a arte, a cultura ou a ciência —
enquanto na economia e na política, a estrutura social continua a ser
influenciada pela antiga psicologia, até que a transformação se complete.
Conseqüentemente, num período de transição, não é muito fácil identificar qual é a psicologia social predominante: se anterior ou a mais recente. As expressões que caracterizam a psicologia de uma classe social (varna) podem ser bem diferentes nas diferentes fases de uma era — nascimento, adolescência, maturidade, velhice ou degeneração.
Normalmente,
a história enfatiza os feitos dos governantes (reis, ministros e líderes
políticos), dando a mínima importância ao povo. Por isso, até o presente,
sabe-se muito pouco da dinâmica interna das classes governantes.
Além
disso, devem-se realizar pesquisas históricas, com o objetivo específico de
comprovar os ciclos sociais.
A
importância dos ciclos sociais como modelos para uma análise da história é
reforçada pela facilidade com que encontramos exemplos. Os movimentos de
estudantes e intelectuais dissidentes na China e nas antigas nações soviéticas,
sem mencionar as várias rebeliões nos antigos países comunistas da Europa
Oriental, ilustram que há uma tendência de a era ksattryia (militar) ser
seguida pela era vipra. Medidas contra-evolucionárias foram implementadas pelos
regimes ksattriyas, mas, conforme está previsto na teoria proutista, estas não
poderiam durar indefinidamente. De acordo com a mesma lógica, o comunismo deve
entrar em colapso também na China, na Coréia do Norte, em Cuba etc., devido à
pressão da classe vipra (estudantes e intelectuais). Mas isso só ocorrerá
quando a classe shudra tiver suficiente mobilização e consciência da
necessidade de mudanças.
Pode-se
predizer também que os estados fundamentalistas islâmicos (as sociedades vipras
do Irã etc.) tendem a se mover em direção à sociedade vaeshya (da mesma forma que
os outros países do Golfo). Contudo, alguns indícios comprovam que poderá haver
contra-revolução e contra-evolução fundamentalista (organizada por
pseudovipras), como aconteceu no Irã (a ascensão de Ayatullah Khomeini, nos
anos setenta) e no Afeganistão mais recentemente. Essa repressão contra o
avanço, contudo, será revertida.
Um
outro item importante a ser considerado é que as nações ocidentais estão
prontas para iniciar uma revolução contra a globalização neoliberal. Temos
exemplo disso na rebelião zapatista, no México, com os ksattryias
(guerrilheiros) conduzindo a revolução shudra. Embora tenha sido
temporariamente reprimido pela força vaeshya dominante, pode-se esperar que
essa revolução venha à tona novamente e com mais força. Isto ocorreu primeiramente
no México por causa da grande disparidade de renda. É importante notar que
essas revoluções e mudanças nem sempre ocorrerão através do socialismo ou do
comunismo — outras teorias também poderão assumir esse papel.
Vimos que, no decorrer da história, diferentes
classes sociais lideram a sociedade, passando de um fase progressista ou
dinâmica para uma fase de exploração. Isso acontece devido aos interesses de
líderes egoístas, que têm uma visão limitada pela psicologia de sua classe. Por
causa desses interesses de grupos, as mudanças de ciclos sociais não ocorrem
suavemente, mas sim através de conflitos.
Revolução
e contra-revolução são movimentos alternados, que muitas vezes levam a
sociedade à beira de um desastre e geram muito sofrimento.
Uma
questão surge: toda fase de exploração deve ser seguida por uma revolução
(física ou intelectual), que cause sofrimento inevitável? Será que, quando uma
classe chega ao estágio de exploração, a sociedade deve sucumbir numa fase de
estagnação social?
A
filosofia de PROUT visa ao estabelecimento de uma síntese social que perdure e
tenha a orientação de lideranças espirituais e intelectuais. Esses líderes são
personalidades chamadas sadvipras (ver apêndice C), que, por seus esforços
físicos, mentais e espirituais, desenvolvem as qualidades positivas de todas as
classes, tendo também força moral e coragem para lutar contra a injustiça e a
exploração.
Sadvipras
são pessoas que dedicam suas vidas ao bem-estar da sociedade, como expressão do
amor despertado na busca da realização espiritual. Elas são capazes de inspirar
a sociedade e conduzi-la numa direção sintética e progressista. Se houver um
esforço coletivo para alcançar o progresso social (ver “Seis Fatores para o
Desenvolvimento e o Progresso” – Apêndice D), a sociedade poderá gerar um
número suficiente de sadvipras, os quais poderão liderar uma transformação
positiva.
A
mudança dos ciclos sociais é considerada como inevitável, contudo, se houver
orientação de líderes socioespirituais, a progressão dos ciclos sociais poderá
ocorrer de forma suave. Os sadvipras são pessoas capazes de aplicar dinamismo e
força suficiente ao ciclo social, a fim de acelerar a transição de uma classe
social degenerada para a próxima. Eles terão a capacidade e o compromisso de
acelerar o ciclo social assim que os sinais de decadência ou exploração social
ficarem evidentes, coordenando a transição para a próxima era, de forma
positiva. No sentido filosófico, eles são vistos como se estivessem no núcleo
dos ciclos sociais, influenciando externamente a progressão em espiral da
estrutura da psicologia social.
O movimento dos ciclos sociais será desordenado, se não houver a ação dos sadvipras para coordená-los e organizá-los. Do ponto de vista espiritual, a sociedade humana ainda está num estágio primário. Quando os seres humanos puderem, conscientemente, controlar o movimento progressivo da sociedade, coordenando as mudanças de eras das diferentes psicologias sociais, então, se dará o início de uma sociedade humana mais madura. Isto pode parecer com o que Marx e Engels definiram como evolução da história humana do “reino da necessidade” para o “reino da liberdade”.
Essa não é uma visão estática das transformações da sociedade, mas sim a busca do movimento dinâmico dos ciclos sociais por uma sociedade progressista e saudável.
É importante lembrar que a visão espiritual universalista é a base desta filosofia. PROUT é essencialmente uma estrutura formada para desenvolver o potencial individual e coletivo em todos os níveis — físico, psíquico e espiritual — sintetizados numa sociedade progressista e dinâmica.
Leitura adicional:
Human Society Part 2: Todo o livro é
dedicado ao estudo da dinâmica dos ciclos sociais.